Lar Recanto do Carinho é referência no atendimento às crianças portadoras de HIV

Há 27 anos, quando foi criado, o Lar Recanto do Carinho era apenas uma casa de seis cômodos no Bairro de Coqueiros, em Florianópolis, organizada para abrigar crianças portadoras de HIV, muitas vezes abandonadas pela família por medo e preconceito. Hoje, a entidade é uma referência no atendimento dedicado não apenas às crianças, mas também aos jovens ex-abrigados. Muitos dos que já passaram pelo Lar mantém com a equipe da instituição um vínculo de carinho que faz juz ao seu nome.

O Lar Recanto do Carinho fica localizado próximo ao Hospital Infantil, em Florianópolis, e conta com 27 funcionários 24 horas por dia. São atendidas 15 crianças na Casa de Acolhimento, três deles acamados, além de 50 crianças na creche. A entidade também presta assistência continuada a 15 famílias compostas por ex-acolhidos quando necessitam de alimentação, material escolar e, em especial, apoio emocional.

Márcia Lange Rila trabalha no Lar desde a fundação, no início da década de 1990. Naquela época, deixou o Grupo de Apoio e Prevenção à Aids – Gapa, para dedicar-se a atender às crianças que nasceram com o HIV. “É um projeto de vida e estou num lugar em que não tem rotina. Ainda assim, saio daqui e agradeço”, resume Márcia. Ela calcula que mais de mil crianças já passaram pela instituição. Nove faleceram e muitos foram adotados ainda bebês ou mesmo com mais idade. Uma parte deles negativou o vírus. Alguns dos que completaram a maioridade e deixaram o Lar mantém contatos frequentes, o que é visto por Márcia como uma alegria. 

“Vários deles já se casaram e agora consideram a instituição como uma extensão da família. Alguns, quando tiveram seus filhos, me ligaram na hora de ir à maternidade. Fui eu quem  acompanhou ao hospital”, conta Márcia. 

“Salário algum pode recompensar o bem que executaram em nossas jornadas, ao trazer conhecimento à nossa existência. Quem por muitas vezes nos ensinou o que seria ensinado por nossas mães?” disse, em mensagem à nossa equipe de reportagem, uma jovem já abrigada pelo Lar que prefere identificar-se apenas como Manoela. “Foram tantos planejamentos, noites mal dormidas e quanta paciência para cuidar de tantas crianças. Palavra alguma pode descrever a gratidão que sentimos”, acrescentou.

Outra jovem que passou pelos cuidados do Lar Recanto do Carinho, identificada como Priscila, contou que reconhece toda a ajuda recebida, especialmente durante um período em que ela e o marido estiveram desempregados.

Faltam recursos

A falta de recursos financeiros é um problema constante na Instituição. Com a verba recebida da Prefeitura de Florianópolis e o resultado de vendas no Bazar a instituição cobre apenas 60% das despesas mensais. Recentemente, uma reforma no sistema elétrico do prédio foi possível por meio da liberação de R$ 36 mil do Fundo de Transações Penais do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.

Para manter a instituição funcionando, as contribuições voluntárias são fundamentais. O presidente do Lar, o procurador de Justiça aposentado Nuno de Campos destacou essa importância quando conversou com magistrados durante o lançamento do livro “Verdades Movediças” e o relançamento de “50 Tons de Poesia”,  do desembargador Luiz Felipe Siegert Schuch, em setembro deste ano (foto abaixo). Esta iniciativa ocorreu durante o Congresso Estadual de Magistrados promovido pela AMC e que reuniu 250 juízes.

A obra “50 Tons de Poesia”, de 2015, já teve o direito autoral cedido para Lar Recanto do Carinho e foi relançada pelo magistrado para alavancar as vendas e auxiliar novamente a Instituição. Os recursos relacionados à venda dos livros já foram entregues pelo magistrado, juntamente com mais exemplares para comercialização pela própria instituição. 

 

O milagre Leonardo

Leonardo Meichioretto tem 28 anos e uma história de luta pela vida e contra o preconceito. Sua mãe biológica descobriu que era portadora do HIV ao receber o diagnóstico do filho. Sem lembranças da mãe e distante do pai, foi criado no Recanto do Carinho. Dos tempos em que esteve no Lar, fala com carinho dos amigos que teve ali. Porém, demonstra tristeza ao falar do preconceito que sofriam na escola. 

“Nos discriminavam, isolavam, rejeitavam”, fala referindo-se aos demais alunos do colégio que frequentavam. “Somos a primeira geração de crianças com HIV e por isso tivemos mais dificuldades. Hoje tem muito mais recurso do Estado, medicamentos e auxílio de organizações não-governamentais”, pondera.

Após deixar o abrigo, aos 18 anos, Leonardo passou um tempo sem contato com a instituição e teve os problemas de saúde agravados. O médico que o atendia procurou Márcia e disse que o quadro dele era grave: tinha câncer nos ossos. Preocupada, a coordenadora conseguiu trazer Leonardo para a Instituição onde foi recebido e cuidado por toda a equipe. Mesmo com o quadro pessimista, o carinho e a dedicação do grupo deram resultado. Leonardo fez quimioterapia, recuperou-se. E, com previsão de ficar em uma cadeira de rodas, fez uma cirurgia no quadril e hoje caminha normalmente.

Leonardo é apontado como um milagre por superar tudo isso. Casado, com uma filha, nunca mais deixou de ter contato com o Lar Recanto do Carinho. Como voluntário, auxilia nos cuidados com o jardim e em pequenos serviços e reparos que necessitam.

 

Quer ajudar o Recanto do Carinho?

Faça uma visita – Rua Rui Barbosa, 810, Agronômica, Florianópolis/SC | Telefone – (48) 3228-0024 |  ou encaminhe mensagem para [email protected]