Adolescentes abrigados de Joinville e Blumenau serão capacitados pelo projeto Novos Caminhos

 “Eu não tenho uma família para me ajudar, nunca tive. Eu fico pensando, o que vai acontecer quando eu tiver 18 anos?”. A resposta para a pergunta, que se multiplica na boca dos 440 adolescentes entre 14 e 18 anos, que integram Programas de Acolhimento em todo o Estado, está na parceria entre a Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) e Poder Judiciário, por meio da Coordenadoria Estadual. O Termo de Cooperação, que marca o início das atividades do projeto Novos Caminhos, foi assinado nesta quarta e quinta-feiras, 12 e 13 de março, nas cidades de Joinville e Blumenau.

Em agosto do ano passado foi implantado o projeto-piloto em Chapecó. A primeira turma foi formada em dezembro. O grupo, integrado por 13 jovens, cursou nove módulos sobre temas como comportamento, proatividade, ética no trabalho e liderança. A AMC estima que nos próximos anos cerca de 600 jovens, ao atingirem a maioridade, deixarão os abrigos no Estado. Eles serão capacitados profissionalmente de acordo com as afinidades ou aptidões pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL/SC), SENAI/SC e SESI/SC, entidades da FIESC. Os jovens que têm entre 16 e 18 anos serão encaminhados para um curso de qualificação para posteriormente ingressar nas indústrias por meio de um programa de estágio.

O presidente da AMC, Sérgio Luiz Junkes, lembrou que os jovens que chegam aos abrigos já tem um histórico de sofrimento e por meio da educação eles ganham outra perspectiva de vida. "Encontramos na parceria com a FIESC uma forma de unir forças para mudar essa triste realidade. Ofertamos chances de sucesso de colocação profissional, e, acima de tudo, de dignidade e cidadania", destacou.

"A FIESC estende sua mão e com suas entidades de ensino oferece essa oportunidade. O Poder Judiciário está aqui para dizer que é parceiro, sim, e está ao lado da FIESC nesta extraordinária iniciativa. Pude testemunhar evento semelhante em Chapecó, cujos frutos já são colhidos", disse o presidente do TJ/SC, Nelson Schaefer Martins.

Já o presidente da FIESC, Glauco José Côrte, ressaltou que a iniciativa terá grande repercussão na vida dos adolescentes que estão nos abrigos. "Estamos proporcionando essa oportunidade de se qualificarem profissionalmente. É a contribuição que a FIESC dá não só à sociedade catarinense, mas também à indústria. Vamos preparar jovens qualificados para ingressar no setor. São adolescentes em situação de risco, que não tiveram a oportunidade de conviver com sua família. Estamos dando essa capacitação e acompanharemos os jovens durante cinco anos de sua vida profissional", afirmou.

Grande entusiasta do projeto, o Desembargador Sérgio Izidoro Heil, responsável pela Coordenadoria Estadual de Infância e Juventude (Ceij) destacou o sentimento de esperança com os primeiros resultados da parceria. “Não tenho palavras para descrever a alegria que senti quando essas crianças receberam seu certificado. Vejo cada criança participante como uma estrela no céu a brilhar no Estado de Santa Catarina”, pontuou. O Corregedor Geral da Justiça, Desembargador Luiz César Medeiros, também enalteceu a importância do projeto na vida dos jovens abrigados. “É um investimento que vale a pena e uma satisfação ver a iniciativa privada dar suporte onde o poder público não age. Os abrigos são como braços que acolhem esses jovens, mas apenas um período, é preciso mais. É necessário um empurrão que vá além, que possa mudar o futuro desses adolescentes. É isso que o projeto representa”.

Ao todo, Santa Catarina tem cerca de 170 abrigos que atendem crianças entre 0 a 18 anos. Atualmente, há em torno de 1,5 mil crianças e adolescentes acolhidos. Destas, 440 são adolescentes entre 16 a 18 anos. Muitos deles destituídos do poder familiar, sem chances de retorno à família ou de serem adotados, por causa da idade.

Neste ano, o projeto Novos Caminhos também será implantado em Lages, São Miguel do Oeste, Itajaí, Florianópolis, Jaraguá do Sul e Criciúma.

Como funciona: O projeto é desenvolvido em três etapas. Primeiros os jovem participam do Programa Profissional do Futuro. Trata-se de um conjunto de nove capacitações que visam à aquisição de conhecimentos, atitudes e comportamentos importantes para o exercício de qualquer profissão. Esse programa foi elaborado com base em competências consideradas importantes por diversas empresas-clientes do IEL/SC e que podem ser desenvolvidas para estagiários, estudantes e demais profissionais em início de carreira.

Na segunda fase é realizado um trabalho de identificação do nível de escolaridade dos jovens, encaminhamento para cursos de aprendizagem, qualificação ou técnico. Posteriormente, são encaminhados para a indústria. A terceira etapa é o acompanhamento dos jovens por cinco anos.